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OLÍMPICO. A DESPEDIDA (dezembro/12)

Primeiros dias do último mês do ano. Dezembro dos balanços, das festas do calendário, das promessas, das esperanças renovadas. Na derradeira última partida um clássico e toda sua acirrada rivalidade, toda bagagem e peso de uma disputa mais do que centenária. Na véspera, dando aula de mobilização, a Nação Gremista reúne aproximadamente 15.000 apaixonados para alentar o tricolor no treino programado. Alma literalmente lavada. À noite, em atividade esportiva para resplandecer de azul o entardecer e a noite no entorno do Monumental, outro recorde da maior e melhor torcida meridional: mais de 10.000 inscritos e outros tantos se fizeram presentes. Massivos e apoteóticos eventos. Na sequência, inúmeros gremistas fizeram vigílias solidárias próximas ao querido estádio que adormeceu ansioso esperando a sua gente. Orgulho gauchesco, churrasco, cerveja, prosa, adoração e nostalgia vararam a madrugada do dia que sacramentou, oficialmente, o início da dolorida mudança de lar. Altivo e solidário povo tricolor. Nada, de fato, pode ser maior.

No domingo, o jogo. Tenso ao extremo, nenhuma novidade. Adversário temeroso desde o início, preocupado em não sofrer acachapante derrota, encolhido defensivamente. Postura não proibida por regra alguma, mas risivelmente taxada pela imprensa isenta de “brava e heroica”. O Grêmio, com o apoio de 45.000 torcedores, ingressa desfalcado, com apenas um avante e surpreendentemente sem ímpeto para quem precisava energicamente triunfar. Precariamente consegue ir para cima, esbarrando na própria impotência para criar e finalizar. Debilidade ofensiva. A massa sedenta por vitória, pela pelota estufando os cordéis dos visitantes e a equipe gremista valorizando a dita posse de bola, girando e a tocando repetidamente para os lados, com recuos atestando escassez. Quase nenhuma objetividade. Raros momentos de chegada. Limitação. Acomodação. Vantagem numérica desperdiçada. Do outro lado, encenações dos que não queriam a esférica rolando. Confusão. Acréscimos pífios. Apito final.

Alívio e delírio rubro por conseguir débil empate. Conquista da décima colocação no campeonato, fabulosos 45 % de aproveitamento. Impedida a terceira derrota nos cinco clássicos disputados em 2012 e a zona de conforto totalmente à vontade para planejar o Gauchão 2013 e tocar a barca pelo estuário do Guaíba (mesmo com a chiquitita afetada e de voz fina ameaçando pular e se afogar). Destaque para bonita lembrança a Kidiaba (justa, até pela proximidade do Mazembe´s Day) por parte do goleiro stand by e stand up comedy da Padre Cacique, provando que não há trauma para todo sempre e que todo fiasco pode, sim, ser bem assimilado. O futebol congolês, incluindo as estrelas Kabangu e Kaluyituka, merece todo reconhecimento.

Findo o campeonato. Grêmio na pré-libertadores. Campanha com seus méritos, ok. Porém imperiosa a necessidade de dispensas (dos sem rendimento e/ou sem atitude e, convenhamos, há o que listar) e reforços na retomada da luta pela América. E que as aquisições tenham a cara de um Grêmio que nós, anônimos torcedores, esperamos seja resgatado: com brios, inconformidade diante das adversidades, impregnado de ganas por vencer. Ao falar em qualidade, considerar jogadores com personalidade, liderança, comprometimento, entrega. Sanguinários, sim senhor, e copeiros. Nada mais, nada menos.

Partida encerrada. Por infindáveis minutos, horas, a imensidão do Estádio Olímpico Monumental seguiu tomada por todos, depois muitos, numa comoção de milhares representado o sentimento de milhões. Os vídeos que surgiram no telão. As dezenas, centenas de manifestações espontâneas de calorosa afeição, o pranto profundo que acometeu pessoas de todas as idades e gerações. O Hino Rio-Grandense que tantas vezes das muretas entoamos aos desafiantes afirmando nossa cultura e identidade. A querência amada, vozes a plenos pulmões, para quem quiser saber quem somos. Tocante. Amigos e famílias, desconhecidos, que mutuamente se consolaram no aperto de mão, no abraço solidário e reafirmaram a confiança no futuro que já está entre nós. E aquela avalanche que congregou a todos os gremistas não havendo vocábulo ou frase que possa descrever a grandiosidade da emoção compartilhada. Missão cumprida, inesquecível e amado Olímpico. O sentimento (quem não sabe ?) não termina. Não desmorona, não se desmancha, não ruirá. Pedimos permissão para te levar, eternidade afora, nos melhores pensamentos e nas mais gratas lembranças. Intensamente. No coração. És o Grêmio. És a nossa aguerrida história. És Imortal.

Jorge Bettiol.

Para Ducker.com.br

 

 

 

OLÍMPICO. O REENCONTRO (dezembro/12)

Naquela manhã de setembro o despertar foi distinto. Pela primeira vez, em semanas, uma folga no repetitivo trabalho. Não por acaso negociada para aquele (desejado) sábado. Tamanha era a expectativa que o despertador, companheiro inseparável e estridente do cotidiano, atrasou-se no seu chamado. Na verdade, a expectativa a fizera antecipar-se ao relógio. Dia abafado, com rasgos de luz que ousavam enfrentar nuvens carregadas. Nos vidros turvos da cozinha, talvez reflexos. Após um gole apressado de café, descartando qualquer mastigar, tomou cedo seu rumo. Desta feita, o destino não seria o coletivo abarrotado, o trânsito caótico rumo ao centro da cidade. Não haveria o caminhar metódico na calçada estreita, cotidianamente tomada por anônimos sussurros e ansiedades. Tampouco a chegada ao amplo saguão, à identificação com o cartão magnético junto à catraca (dispensando qualquer privilégio), o posicionamento na fila do elevador, o ingresso e aquela espremida e solene formalidade. Não ouviria o simpático e rotineiro “bom dia” da ascensorista. Não seria içada, com escalas permeadas por solavancos, ao topo do velho prédio para o começo de mais uma entediante jornada laboral. Este era, de fato, um dia diferente de todos os demais. Ao entrar no táxi trajava a camiseta tricolor preciosamente herdada. Tinha o dinheiro contado, uma tosse seca (dos castigos climáticos da Província de São Pedro) e os batimentos acelerados. Na véspera, fora desaconselhada a comparecer e ouvira reprovações severas da preocupada mãe: "Filha, mas o que tu tens na cabeça? Vais sozinha? E ainda por cima pesteada?" Respeitava os zelos domésticos, porém não trocaria aquele reencontro por nada: nenhuma restrição seria pertinente, coisa alguma seria obstáculo. Ao pisar no sagrado solo da paixão, percebeu se somar a uma multidão vibrante. O som dos milhares que se aglomeravam em torno da imponente edificação se propagava com energia. Antes mesmo de chegar ao pórtico, teve dificuldades para se deslocar. A massa, ávida por saudar e celebrar o magistral templo gremista tomava todos os acessos, todos os caminhos e atalhos. Porém, não cogitou desistir. Queria avançar. Decidida, rumou ao centro daquele turbilhão de emoções. Escutava músicas, oradores, cânticos apaixonados, crianças alegres e também impacientes, brados e aplausos. Enquanto tateava e prosseguia em meio à impressionante concentração do povo tricolor, levitava nas lembranças afetivas da primeira e inesquecível ida à cancha: da mão firme do avô querido que a conduziu, do calor daquela gente nas arquibancadas, dos gritos de gol, dos afagos da mãe ao contar em casa sua extasiante experiência. Depois houve um período de provações: de chuvas, raios e trovoadas. A doença progressiva, resultando na perda da visão, a mais infame destas tempestades. Entretanto, particularidade incapaz de abater sua fibra, sua fé na vida e a devoção ao amado Grêmio. Mesmo quando ocorreu a mudança para pagos distantes das raízes, impondo afastamento temporário a tudo que sempre foi caro, jamais deixou de manifestar seu gremismo arrebatador. Tudo ao mesmo tempo agora. Tudo retornava, ecoando forte dentro do peito. Envolta nos pensamentos, sentia a mente e o corpo girando. Transpirava. Precisava estar ali, queria estar ali. Necessitava retribuir, agradecer ao colosso de concreto por tantas alegrias. Sabia que o abraço coletivo ocorreria em instantes, mas não queria aguardar todo cerimonial, precisava ir em frente. Embora cercada de contagiante entusiasmo, necessitava seguir avançando. O suor vertia pelo rosto. A cabeça repleta de efusivas recordações. Mais oradores. Saudavam o estádio, o aniversário do clube, a numerosa presença dos torcedores. O ano novo judaico, coincidentemente iniciando naquele final de semana, também foi aplaudido. Shaná Tová! Padre, Pastor, Rabino, babalorixá. Grêmio ecumênico, Grêmio de todos. Milhares de vozes, chegada de bumbos, trompetes, novas palmas. Quase exaurida, instintivamente surgiu o gesto: ergueu um dos braços, de súbito, e fez reluzir aos céus o bastão de alumínio (seria um cajado?). Ato contínuo, aquele oceano de gente gremista, instintivamente foi se abrindo. Tal qual numa versão feminina de Moisés, um mar azul, preto e branco ofertou passagem. Prodígio. Guiada apenas por imensa gratidão, a guria atravessou com êxito o pátio que fervilhava. E assim, cansada, mas orgulhosa, emocionada, conseguiu encostar as mãos, repousando também a face naquelas paredes cilíndricas e pulsantes. Concreto carregado de vida, tijolos e materiais esfuziantes de história. Primeiro ofegante, em seguida estática. Assim permaneceu. Sorria. Sentia uma reconfortante paz. Algo que irradiava. Uma paz extraordinariamente olímpica, uma paz extraordinariamente monumental.

Jorge Bettiol.

Para ducker.com.br




 

 
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